sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Transcrevo a palavra do bispo de Osório, Dom Jaime Pedro Khol, sobre tema da missão. Ler favorece a compreensão da missão e motiva a ser missionário.

Cultura do encontro

Concluindo o mês missionário, nos perguntamos: falamos tanto de missão, mas qual seria a melhor metodologia ou pedagogia para a transmissão da fé, hoje?
Quem acompanhou a visita do Papa Francisco por ocasião da Jornada Mundial da Juventude ou leu algo dos seus escritos deve ter percebido que suas mensagens são de uma linguagem simples e direta, e sua pedagogia é sempre dialogal. Em que sentido isso tem a ver com a missão? Tem muito a ver porque missão é evangelização e evangelização é apresentar uma proposta de vida, ou melhor, oportunizar um encontro com uma pessoa viva: Cristo Ressuscitado!
Falar da cultura do encontro sugere um movimento de saída, de ir ao encontro do outro, aproximar, visitar, ir para a rua, entrar nas casas e nos vários areópagos do mundo, na “praça dos gentios”, no bar da esquina, ou seja, lá onde as pessoas de alguma forma estão se encontrando, para lá semearmos a alegria e a esperança evangélica: a boa notícia da salvação em Cristo Jesus.
Essa “cultura do encontro” pode ser traduzida como a “cultura do diálogo” ou o “caminho do diálogo”. Somente podemos encontrar alguém quando estamos dispostos a dialogar com o outro, seja ele pessoa, comunidade ou nação. A disposição a encontrar e deixar-se encontrar é condição indispensável para estabelecer uma relação fecunda em todos os sentidos, não menos tratando-se da evangelização, tanto ad intra como ad extra.
Falando aos dirigentes do nosso país o papa propõe o diálogo como método para a solução de todos os conflitos. Diz ele: “Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre gerações, o diálogo no povo, porque todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura econômica e a cultura da família, e a cultura da mídia. Quando dialogam... Considero também fundamental neste diálogo a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia.”
Depois ele continua: “Quando os lideres dos diferentes setores me pedem um conselho, minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira de uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira de fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Hoje, ou se aposta no diálogo, na cultura do encontro, ou todos perdemos.”
Esse pensamento fica ainda mais evidente na sua mensagem aos argentinos por ocasião da festa de São Caetano comentando o lema da romaria: “com Jesus e São Caetano vamos ao encontro dos mais necessitados”. Entre as tantas coisas diz: “O que Jesus nos ensina é primeiro encontrar-nos e no encontro ajudar. Precisamos saber encontrar-nos. Precisamos edificar, criar, construir, uma cultura do encontro”.
Ir ao encontro das pessoas, lá onde elas habitualmente estão, e sem muitas palavras, mas a partir do testemunho de vida comunicar a alegria e o sentido de vida que encontramos em Cristo Jesus.
Ir a todos sem discriminação e nem preferências. Caso queiramos privilegiar alguém, sejam os mais pobres, mais sofridos, mais sozinhos, mais afastados, mais necessitados de uma presença amiga que lhes passe um pouco de esperança e os ajude a prosseguir no caminho do bem, da justiça, do amor e da paz.
Como se pergunta e responde o próprio papa: “É ir ao encontro para convencer o outro a fazer-se católico? Não, não, não! Você vai encontrá-lo, é seu irmão! Isso basta! Vai ajudá-lo, o resto Jesus e o Espírito Santo o fazem”.
Não vos parece que essa linguagem seja semelhante aquela dos primeiros cristãos em Atos 2,42ss: “Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações... E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que seriam salvas”?
Podemos dizer que essa é a verdadeira evangelização: a transmissão da fé feita por contágio, pelo testemunho de vida. A Missão em todas as direções e que pode chegar a todos: pobres e ricos, letrados e não letrados, pequenos e grandes, doentes e sãos, presos e livres, todos os que aproximamos.
Por isso ousamos afirmar que o caminho da missão é o caminho do encontro, da aproximação, do diálogo. Missão é parar, descer, aproximar-se do caído ao longo do caminho e prestar-lhe o cuidado que necessita para se restabelecer e prosseguir sua vida, na busca de seus sonhos.
Ou então, como muito bem expressa Dom Helder: “Missão é partir, mais do que devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, missão é abrir-se aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro”.
O caminho da missão parece bastante claro. Cabe a cada um percorrê-lo. É o caminho do encontro, do diálogo, da partida...
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório


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