A voz da comunidade
É de
compreensão geral que o período de férias facilita a participação das pessoas
nas atividades religiosas, tendo assim oportunidade de renovarem sua
espiritualidade. Também é sabido que no litoral estão os locais preferidos das
pessoas para curtirem suas férias e participarem das atividades religiosas. Em
face disto, as férias são um tempo propício para o crescimento espiritual e a
evangelização. Por conseguinte, para o bom atendimento do Povo de Deus, tal
período exige da Pastoral de Veraneio um profundo empenho apostólico das
comunidades eclesiais, lideranças e sacerdotes. A ênfase do empenho pastoral é pela
acolhida e motivação espiritual capaz de revigorar as energias das pessoas, numa
atuação que alicerça um encantamento eclesial pela temporada de veraneio e pelos
que buscam os serviços religiosos.
Tendo
em vista o bom atendimento ao Povo de Deus em férias, a Pastoral de Veraneio propõe-se
a missão de interagir entre descanso e fé, liberdade e participação,
atendimento efetivo e afetivo, atenção comunitária e personalizada, ações
organizadas e espontâneas. Como resposta predominante, a Pastoral de Veraneio baseia-se
na profunda experiência de Deus sustentada na escuta e anúncio da Palavra de
Deus, no celebrar a liturgia eucarística, no encontro com Jesus Cristo, na
acolhida ao outro.
Ao
considerar esses elementos indispensáveis à evangelização na temporada de férias,
a Pastoral de Veraneio implica no cumprimento de um ardor por Jesus Cristo e em
um atento apostolado aos habitantes de realidades paroquiais diferenciadas. A
atuação da Pastoral de Veraneio realiza-se em torno de um apostolado essencial:
a) Comunidades - a voz da acolhida
Em sociedade
secularizada em que imperam o individualismo, isolamento, fechamento e
anonimato capazes de levar ao esgotamento das energias, as férias são uma
oportunidade de emancipação do indivíduo e de sua liberdade. Contrapondo-se a
isto, pela Pastoral de Veraneio a Igreja apresenta-se como comunidade
acolhedora e de superação dessa realidade. A Pastoral de Veraneio procura aproximar
as pessoas para que não caiam no vazio da subjetividade. Também busca despertar
o interesse pela revalorização da comunidade fundada na experiência amorosa a
Deus e ao próximo. Em resposta à sociedade consumista e competitiva, a atuação da
Pastoral de Veraneio busca valorizar o ser humano para a comunhão de comunidade
eclesial, que oferece condições de revigorar a fé, e motivações para conduzir a
vida segundo os valores cristãos.
Em
resposta ao descanso e gozo das férias, a Pastoral de Veraneio, ao
apresentar-se como Igreja acolhedora, dá destaque à razão de ser da comunidade
de fé, que é oferecer em Jesus Cristo uma contraposição àquilo que pode se
revelar ilusório. Tende a Pastoral de Veraneio a chamar as pessoas a estarem em
comunhão, que é condição humana seguindo a experiência divina manifestada na
unidade em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A motivação principal da Pastoral
de Veraneio é favorecer ao ser humano desfrutar da experiência da comunhão com
o Povo de Deus.
No
prosseguir da resposta, o Concílio Vaticano II ressalta que a Igreja nasce do
coração da Trindade e que é a fonte da comunidade cristã: “É o povo reunido na
unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (LG, n.4). Pois é nesta comunhão
em Deus Trindade que a comunidade cristã recebe batismo e o ministério de
professar a fé em comunidade. Nessa perspectiva, o itinerário da missão da
Pastoral de Veraneio é inicialmente oferecer aos cristãos esse chamado a viver
em comunhão com a comunidade do Senhor. A ênfase da Pastoral de Veraneio é
expressar-se como comunidade acolhedora no princípio fundamental de fé na adesão
a Deus. A sua atuação é ser fiel à vocação da Igreja: comunicar o rosto da
Trindade, que se torna a melhor comunidade para se viver a fé e a vida. Assim,
pelo retorno ao espaço sagrado, abraça-se o testemunho da Palavra de Deus.
b) Comunidades - a voz da Palavra de Deus
A
Pastoral de Veraneio, ao apresentar a Igreja fiel à vocação de ser luz e sal do
mundo, volta atenção à segunda resposta ao descanso e renovação espiritual das
pessoas. Nesta resposta está a significação do que é vital para a existência e missão
da Igreja: a escuta e o anúncio da Palavra de Deus. A Palavra divina está na
raiz e na gênese da história da salvação humana. O homem e a mulher foram
criados à “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27). O salmista canta o poder
criador da Palavra: “Pela Palavra do Senhor foram criados os céus... porque ele
falou e tudo foi feito, ele mandou e tudo existe” (Sl 33,6.9). Moisés é
convocado pela voz da Palavra: “Deus falou-vos do meio do fogo: ouvíeis uma voz
de palavras, mas não víeis nenhuma figura; só uma voz” (Dt 4,12). A escuta da
Palavra está na origem do ser, da criação, da redenção humana e de orientação
da história.
Em
temporada de verão, a missão da Pastoral de Veraneio concentra-se em levar as
pessoas para o acolhimento da mensagem da Palavra do Senhor. Em decorrência desta
missão, a Pastoral de Veraneio constitui-se em abrir canais de anúncio da
Boa-Nova em novos espaços, com novos métodos e com novas relações em contextos de
temporada de férias. Na missão de propagar a Boa-Nova da Salvação, a mensagem da
Pastoral de Veraneio alimenta a fé das pessoas e das comunidades cristãs
identificadas em Cristo e é testemunha da presença de Deus na história.
A temporada
de veraneio, como novo mundo fecundo da missão, desenvolve a comunidade cristã
que vive à luz da Palavra de Deus. Então, a Igreja que nasce do coração da
Trindade prega que é pela Palavra que Deus faz o mundo obra sua, conduz seu
povo e ilumina a história da humanidade. As comunidades protagonistas da
Pastoral de Veraneio reconhecem que Deus revela pela Palavra seu poder: “Ela é
como a chuva que desce do céu e para lá não volta sem ter regado a terra,
tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que
come. Ela não torna a ele sem ter produzido fruto e sem ter cumprido a sua
vontade” (Is 55,10). O conteúdo da missão da Pastoral de Veraneio é proclamar a
Boa-Nova, mostrando o sentido de ser Igreja e fazendo seguidores de Jesus, a
exemplo dos Doze e das primeiras comunidades cristãs. Uma fé alimentada pela
Palavra de Jesus Cristo leva ao testemunho de comunidade.
c) Comunidades - a voz litúrgico-eucarística
A
razão de ser da comunidade cristã que nasce do coração da Trindade é desfrutar
dos bens salvíficos oferecidos pela comunhão em Deus, especialmente na
Eucaristia. Nesse entendimento, o Concílio Vaticano II ressalta ser a comunhão
Eucarística a “fonte e ápice de toda a vida cristã” (LG, n. 11). Isto significa
que há outro elemento e caminho de atuação teológico-pastoral importante para
alimentar a comunhão eclesial e a fé da comunidade cristã.
Em
temporada de veraneio, é importante que a Igreja se apresente como uma
comunidade de voz litúrgica e eucarística e valorize essa experiência de fé. Os
veranistas, motivados pela voz da comunidade acolhedora e da comunidade da
Palavra, percorrem o caminho para a perfeita unidade com Deus no encontro com
Jesus Eucarístico. Nesse encontro pessoal e comunitário com a Palavra e com a
Eucaristia, a Igreja conduz a todos para continuarem o gesto concreto do
lava-pés de Jesus (Jo 13,1ss). Então a narração evangélica da última ceia,
memorial do sacrifício de Cristo, quando proclamada na celebração eucarística,
converte-se na missão da Igreja que quer alimentar a todos com o pão da vida, o
Corpo de Cristo.
Em
resposta ao descanso e gozo das férias, a Pastoral de Veraneio desperta para o
encontro com Jesus. Por conseguinte, para revigorar as pessoas de fé é imprescindível
estar munido da voz da comunidade acolhedora, da Palavra, do Mistério
Eucarístico. Sem a necessidade de megaeventos ou megashows, a cena de Emaús (Lc
24,13-35) pode orientar a atuação da Pastoral de Veraneio onde acontecem os
passos necessários de acolhida da Palavra que segue, à mesa, a fração do pão
eucarístico. É por isso que a Pastoral de Veraneio pode aproveitar a temporada
de veraneio para revigorar as pessoas na fé e reinseri-las na comunidade de
Cristo. Com isso se apresenta o que sustenta a Igreja e põe no centro o que
deve ser da vida cristã “a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, unidas
tão intimamente entre si, que constituem um só ato de culto” (SC 56).
d) Comunidades - a voz do caminho
A
quarta resposta ao bom proveito das férias para revigorar as energias e a
espiritualidade das pessoas, capaz de conservar uma genuína substância dos
conteúdos de fé contrapondo os riscos à cultura cristã, aspira ultrapassar as
fronteiras dos espaços sagrados. A cultura secular entende que há novos
caminhos do mundo além dos religiosos, há uma fecundidade cultural e humana
diferenciada do perfil das linguagens, concepções, tradições e símbolos
religiosos. Um mundo plural tende a ultrapassar as fronteiras religiosas
cristãs. Todavia, a Palavra de Deus revela um espírito excepcional de
inculturação. Isto significa que a Palavra de Deus pode chegar a todas e às
novas culturas humanas. Ela é fundamental para qualquer cultura, geração e
tempo.
É
próprio da mensagem da Palavra avançar em novos caminhos. “De Sião sairá a Lei
e de Jerusalém a Palavra do Senhor” (Is 2,3). De fato, a Voz de Deus sai de sua
casa, do templo, da Igreja, entra pelas estradas do mundo e sua peregrinação
continua em busca de acolhida de sua mensagem. Em cultura secular, as
informações são rapidamente socializadas por sofisticadas técnicas e redes de
comunicação, por isso a mensagem de Deus precisa adaptar-se a outros métodos de
comunicação. Propor-se como se lê a mensagem do Cristo ressuscitado que envia
os apóstolos: “ide e fazei discípulos todos os povos (...), ensinando-os a
observar tudo o que eu vos mandei” (Mt 28,19-20). A mensagem da Palavra não
fica inadequada aos novos caminhos, como a praia e o litoral.
A
comunidade como voz do caminho responde a toda a cultura e a todo tempo: “Eis
que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, irei ter
com ele, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Diante dos dramas e paradoxos
da cultura secular, a comunidade como voz do caminho pode mergulhar no novo
mundo com múltiplas formas de comunicação, fazendo ressoar sua mensagem em
novos horizontes como o litoral. A Pastoral de Veraneio é chamada a fecundar a
cultura das férias e assim conservar a missão da Igreja de ultrapassar as
tradicionais fronteiras, chegando aos novos sinais dos tempos.
e) Comunidades - a voz da espiritualidade
Os
caminhos para responder ao descanso e gozo das férias são múltiplos, porém,
outro ponto fundamental para a atuação da Igreja é a espiritualidade. A eficaz
acolhida da Palavra de Deus vem precedida por uma profunda experiência de
oração. Constitui-se a oração em um meio de conservar e difundir o anúncio da
mensagem de Deus para seu povo. Com muitas formas de rezar, por vezes
silenciosas, sem palavras, as pessoas respondem a uma vontade de intimidade com
Deus capaz de renovar suas energias.
A
comunidade como voz da espiritualidade constitui-se num grande testemunho da
Igreja de acolhida, da Palavra, da Eucaristia, do caminho em Cristo. A atuação
da Pastoral de Veraneio está entrelaçada com o que São Paulo recorda: “A
palavra de Cristo habite entre vós com toda sua riqueza: com toda a destreza
ensinai-vos mutuamente. De coração agradecido cantai a Deus salmos, hinos,
cânticos inspirados” (Cl 3,16). Isto significa que a espiritualidade é um luzeiro
para a Pastoral de Veraneio e um dos grandes pilares para as pessoas em férias.
Concluem-se
as respostas no reconhecimento que a temporada de verão implica na Pastoral de
Veraneio atuar nas mais diversas formas para fortalecer as energias e a
espiritualidade das pessoas, grupos, comunidades. É consenso que as pessoas
livres de compromissos profissionais, na temporada de veraneio e na praia,
encontram seu lugar privilegiado para revigorar a fé no encontro com Cristo e
com a comunidade, eco de sua voz. Munir-se de preparados ministérios de
acolhida, da palavra, da liturgia e outros será imprescindível para que a voz
da compreensão, da interpretação, do testemunho e da comunicação da Palavra
abra múltiplos caminhos de encontro com o Senhor.
Texto: Frei Miguel Debiasi
Mestre em filosofia e teologia
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