domingo, 6 de julho de 2014

Transcrevo a palavra do bispo diocesano de Osório. Vale apena ler.

Palavra do Bispo

O dedinho de Deus
Não obstante os prognósticos negativos e preocupações nacionais e internacionais que apresentavam um quadro caótico com relação a realização dos jogos da Copa do Mundo no Brasil, parece que tudo está indo muito bem: estádios cheios de torcedores animados e alegres; jogos de qualidade marcados por uma dedicação impressionante dos atletas; até agora, nenhuma manifestação de racismo; encontros pacíficos e amigáveis entre atletas e torcedores...
Certamente, o bom humor dos brasileiros, a boa acolhida dispensada a todos os visitantes, estão colaborando com o sucesso da maior festa do futebol mundial. Tomara que até mesmo a “qualidade FIFA” possa nos enriquecer e ser enriquecida com espírito alegre do povo brasileiro.
Sabemos que na abertura da Copa do Mundo, o Papa Francisco e nviou uma saudação a todos os organizadores, participantes, atletas e torcedores, bem como a todos os espectadores que acompanham este evento que supera as fronteiras das línguas, culturas e nações.
Augurou que, além de festa do esporte, esta Copa do Mundo fosse a festa da solidariedade entre os povos. Isso supõe, porém, que as competições futebolísticas sejam consideradas por aquilo que são: um jogo e, uma ocasião de diálogo, compreensão e enriquecimento humano.
Deixando claro que o esporte não é somente uma forma de entretenimento, mas também um instrumento para comunicar valores que promovem o bem das pessoas e da sociedade. Convidou a pensar na lealdade, perseverança, amizade, partilha, solidariedade, nos valores e atitudes que se revelam importantes não só no campo, mas em todos os aspectos da existência.
Ele apontou três atitudes essenciais para fazer do esporte uma escola da paz: a necessidade de ‘treinar’, a arte esportiva, a honra entre os competidores.
O esporte, em primeiro lugar, nos ensina que, para vencer, é preciso treinar. Portanto, “podemos ver, nesta prática esportiva, uma metáfora da nossa vida. Na vida, é preciso lutar, ‘treinar’, esforçar-se para obter resultados importantes. O espírito esportivo torna-se, assim, uma imagem dos sacrifícios necessários para crescer nas virtudes que constroem o caráter de uma pessoa. Se, para uma pessoa melhorar, é preciso um ‘treino’ grande e continuado, maior esforço deverá ser investido para alcançar o encontro e a paz entre os indivíduos e entre os povos.
Essa verdade pode ser aplicada aos mais variados aspectos e dimensões da nossa vida, de sde a profissional e, até mesmo, ao nosso caminho espiritual. À mentalidade imediatista de hoje que basta apertar um botão ou tocar uma tecla para obtermos o objeto desejado deve falar alto a necessidade da repetição, da busca contínua e incansável na realização dos projetos e sonhos.
“O futebol pode e deve ser uma escola para a construção de uma ‘cultura do encontro’, que permita a paz e a harmonia entre os povos. E aqui vem em nossa ajuda uma segunda lição da prática esportiva: aprendamos o que a arte do futebol tem a nos ensinar. Para jogar em equipe é necessário pensar, em primeiro lugar, no bem do grupo e não em si mesmo. Para vencer, é preciso superar o individualismo, o egoísmo, todas as formas de racismo, intolerância e instrumentalização da pessoa humana. Não é só no futebol que ser ‘fominha’ constitui um obstáculo para o bom resultado do time; também quando somos ‘fominhas’ na vida, ignorando as pessoas que nos rodeiam, toda a sociedade fica prejudicada”.
Todos entendemos perfeitamente a linguagem do ‘fominha’ e sabemos que, por mais habilidade que um jogador possa ter nunca ganha o jogo sozinho. O próprio ‘craque’ precisa da colaboração de toda uma equipe. Mesmo que não venhamos a ganhar o caneco – vimos que não será fácil pelo sofrimento que passamos na partida contra o Chile; por muito pouco não caímos fora, até me fez pensar no dedinho de Deus, não porque somos melhores ou mais merecedores que os chilenos - se tivermos aprendido a vencer a tentação do individualismo e a trabalhar em equipe, podemos nos dar por satisfeitos.
Na mensagem do Pap a Francisco, “a terceira lição do esporte proveitosa para a paz é a honra devida entre os competidores. O segredo da vitória, no campo, mas também na vida, está em saber respeitar o companheiro do meu time e o meu adversário. Ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida! Que ninguém se isole e se sinta excluído! Portanto, não à segregação, não ao racismo! E, se é verdade que, ao término deste Mundial, somente uma seleção nacional poderá levantar a taça como vencedora, aprendendo as lições que o esporte nos ensina, todos vão sair vencedores, fortalecendo os laços que nos unem”.
Claro que, ainda, não estamos no paraíso, embates fortes acontecem, os cartões amarelos e vermelhos são necessários para a educação esportiva, as ‘mordidas& rsquo; graças a Deus são raras. Tudo indica que vivemos num mundo mais civilizado, mas que ainda resta um bom caminho a percorrer tanto no esporte como na economia, na política e não menos na vida espiritual.
Observando o clima que se criou entre anfitriões e visitantes, parece que o augúrio do Papa para que a Copa do Mundo transcorra na serenidade, no respeito, na solidariedade e na fraternidade entre homens e mulheres está se concretizando.
Olhando a atitude de muitos jogadores e técnicos, vendo seus sentimentos, suas manifestações de piedade, percebesse muita gente boa e humilde, que não se exalta pela fama que possam conquistar, mas se alegram e lutam para servir e honrar seu país. Os melhores e mais dedicados percebe-se que são os que tiveram uma história sofrida e construída com muita dedicação pessoal e familiar.
Tudo converge para o bem daq ueles que amam e se deixam amar, que respeitam e se fazem respeitar, que vão ao encontro e se deixam encontrar. Esperamos que o legado que esta Copa deixa para o Brasil e o mundo seja um legado de paz, fraternidade, solidariedade e compromisso com a suprema verdade: somos todos filhos do mesmo Pai (Deus) e, portanto, todos irmãos e irmãs entre nós, independentemente de raça, nação, cor, religião. Que bonito sentir-nos família humana!
Sem sermos ‘fominhas’ vamos torcendo para que nosso Brasil seja campeão não só no futebol, mas também na construção de um mundo de paz e fraternidade.
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório


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