sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Transcrevo a palavra do bispo diocesano de Osório. Boa leitura a todos!

Palavra do Bispo

Não fecheis o vosso coração...
A mensagem judaico-cristã tem uma característica própria que a distingue de toda e qualquer religião: seu conteúdo foi revelado numa história concreta, a caminhada de um povo. Não é um livro de gabinete escrito por um pensador. Sabemos que é uma biblioteca, ou seja um conjunto de livros, ligados entre si por um fio condutor delicado e sutil: a relação entre Deus e o seu povo.
Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos Profetas. Nesses dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho: Jesus de Nazaré, Verbo (Palavra) feito carne. E, hoje, continua falando-nos pela Leitura das Sagradas Escrituras que o povo ouve, medita, reza e busca viver.
Diante de um Deus que fala precisamos exercitar-nos na escuta. A Palavra de Deus é uma mensagem que não conhece a deterioraç&a tilde;o do tempo, é oferta de vida e vida em plenitude. O próprio Jesus, segundo João, o declarou: “Eu vim para que todos tenham vida e vida plenamente”.
A palavra que ouvimos e acolhemos em nosso coração nos convida a fazer escolhas. Estas escolhas provocadas e iluminadas pela Palavra se tornam progressivamente “testemunho iluminador” para todos os que encontramos no nosso caminho e nas nossas convivências.
Deixemos que a Palavra de Deus revele nossas inconsistências e a vaidade de certas propostas que procuram “seduzir” nosso faminto e sedento coração. Não nos deixemos arrastar e muito menos prostrar diante dos ídolos fascinantes, com suas propostas de paraísos artificiais, para depois morrermos afogados nos mares do “sem sentido”, da desilusão e do vazio mais profundo.
O “Escuta Israel”, é um apelo que Deus di rige a um povo que viveu processos de libertação “dos Egitos que amam escravizar pessoas”, a um povo que experimentou o gosto amargo do exílio. É apelo a uma comunidade que se encontra no momento de retornar à terra da promessa.
Israel tinha “visto” os prodígios e intervenções de Deus contra os egípcios. Agora, chegando à terra da promessa, é o momento de viver uma intensa e profunda experiência de escuta. A escuta da Palavra é condição para permanecer na liberdade e na vida, na fidelidade à aliança, para educar o coração e proclamar com a vida que Deus é único. “Escuta Israel” é a invocação colocada sobre os lábios da criança que começa a balbuciar as primeiras palavras, e será também aquela que acompanhará o moribundo nos últim os momentos de sua vida.
“Procurem o Senhor, enquanto ele se deixa encontrar, chamai-o, pois ele está próximo” (Is 55,6). O convite a procurar o Senhor é paralelo àquele de invocar o Senhor e tem como motivação o fato que ele se deixa encontrar e está próximo.
Segundo a mentalidade bíblica pensamentos e ações são intimamente conectados: para transformar as ações é indispensável mudar a mentalidade e o coração das pessoas. O profeta coloca em realce a eficácia e a eficiência da Palavra de Deus. Ela é como a chuva e a neve que não voltam para o céu sem antes ter fecundado a terra. Assim, o profeta recorda que Deus não pronuncia palavras estéreis e vazias. Ele não fala por falar. O que ele diz acontece. Nem sequer uma virgula passará sem realização.
O pr ofeta fala uma palavra que não é sua, mas que lhe foi confiada para ser proclamada. Essa Palavra é colocada em sua boca e no seu coração. É uma palavra inegociável.
A imagem da “espada afiada” e da “flecha pontiaguda” (Is 49, 1-6) indicam a força da Palavra de Deus: uma Palavra que precisa ser pronunciada em toda a sua integridade, mesmo sabendo e sentindo que isso provocará reações dolorosas e retaliações dos ouvintes.
Quantas vezes a Palavra de Deus, por medo e por mesquinhos interesses, foi deturpada e esvaziada de sua força e vigor. Os profetas de ontem e de hoje recordam, com seu testemunho de vida, que a Palavra de Deus é inegociável, é fecunda e eficaz, realiza aquilo que diz.
Outras metáforas como fogo, luz, atleta veloz, alimento e remédio ajudam a entender a força e a fecundidade da Palavra de Deus.
Aproveitemos esse dia da Bíblia para introduzi-la na nossa casa com o respeito e decoro que ela merece. E porque não começar, hoje mesmo, um diálogo amistoso feito de leitura e escuta diária, construindo assim uma história original de diálogo fecundo com nosso Deus e Senhor?
Como diz o canto: “É como chuva que lava, é como fogo que arrasa, tua Palavra é assim, não passa por sem deixar um sinal”. Se persistirmos na escuta, ela silenciosamente vai limpando e robustecendo nosso coração, habilitando-nos a amar com Deus nos ama.
Não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório


Nenhum comentário:

Postar um comentário