sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Transcrevo a palavra do bispo diocesano de Osório, Dom Jaime Pedro Khol.


Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos

Nestes domingos do tempo comum a liturgia vem alimentando nossa espiritualidade com os belíssimos textos do sermão da montanha. Para esta semana meditamos Mt 5, 38-48, um dos tesouros da radicalidade evangélica proposta por Jesus aos seus discípulos.
O contexto é este: depois de abrir o seu discurso programático com as bem-aventuranças, Jesus retoma o conteúdo dos 10 mandamentos e para cada um acrescenta uma perspectiva nova: “Vos foi dito... eu vos digo...”. Deixando, assim, claro que não veio para abolir a Lei, mas para levá-la a cumprimento.
Vejamos como começa: “Vós ouvistes o que vos foi dito: Olho por olho e dente por dente! Eu, porém, vos digo: não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face deita, oferece-lhe també m a esquerda!”
Não sei quem de nós, hoje, tem essa maturidade espiritual e controle emocional a ponto de oferecer a outra face. Humanamente falando, parece impossível acontecer, uma meta inatingível, mas evangelicamente falando, é uma atitude possível e, não foram poucos os cristãos e, também não-cristãos, que alcançaram tal nível de maturidade. Retribuir ao mal com o bem exige uma certa heroicidade.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo! Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre os maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos.”
Não isso bonito demais!? Mais uma vez estamos diante da proposta de Jesus aos que querem ser de verdade se us discípulos. E ele nos mostrou que isso é possível, dando-nos o maior exemplo da história, rezando ao Pai por aqueles que o estavam a crucificar: “Pai perdoa-lhes pois não sabem o que fazem!” Exemplo que foi seguido pelo diácono Estevão – primeiro mártir - e imitado por muitos outros a começar dos apóstolos que praticamente todos – menos João – morreram derramando seu sangue em nome de Jesus.
Pode parecer um ideal muito alto para nós e achamos que isso que seja somente para uns escolhidos. Contudo, Jesus propõe esse ideal para os querem ser cristãos. Como agimos nós, geralmente? Se quem fraternamente nos corrige, somos capazes de andar de cara amarrada por dias e semanas, embora o que nos é dito seja verdade e deveríamos responder agradecendo a ajudar que nos fez crescer. Até somos prontos a confessar que somos todos pecadores, mas quando alguém nos ajuda a abrir os olhos, fazendo alguma observação, quanto é difícil acolher a correção fraterna. Não é assim?
A frase que segue nos ajuda a cair na real: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa?”
Penso que se atreve a discordar de Jesus: amar quem nos ama não é difícil para ninguém, ao mesmo que a pessoa não esteja psicologicamente doente. Dar-se bem com os que nos são simpáticos e pensam como nós, acolher os que nos querem bem e nos tratam com cortesia, não exige muito esforço de nossa parte. Mas aceitar aquele birrento, arrogante, antipático, sempre do contra e insatisfe ito, aí sim se manifesta a virtude e a força da graça que Deus dá aqueles que lhe pedem e o buscam com sinceridade.
E vejamos como Jesus arremata: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito!” Vem espontâneo perguntar-se: de que perfeição Jesus está falando?
Não sei se perceberam. O sentido será facilmente compreendido tendo presente o texto no seu todo. Podemos traduzir sem medo de errar: “sede perfeitos no amor e na misericórdia!” Sim, Ele age assim: faz nascer o sol não só sobre alguns bons, mas sobre “maus e bons”; e não faz chover somente sobre os que são justos, mas sobre “justos e injustos”.
Portanto, a perfeição do Pai que Jesus nos pede está bem longe daquilo que na maior da vezes as pessoas pensam, ou seja, a condição de quem não tem nenhum defeito o u limite humano ou mesmo pecado. Jesus nos pede de sermos perfeitos na compaixão, no amor, no perdão e na misericórdia.
Podemos traduzir: “Sede misericordiosos como vosso Pai celeste é misericordioso!” Não é isso bonito e possível? Entremos nessa e veremos como a vida fica mais bonita e mais feliz. Deixemo-nos iluminar pela Palavra de Deus e aos poucos nos tronaremos como nos dizia São João Calábria: “Evangelhos vivos!”
Assim vivendo podemos ser “sal da terra e luz do mundo” como nos convidava no domingo passado.
Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos...
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório


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