sábado, 28 de junho de 2014

Leia a Palavra do Bispo, Dom Jaime Pedro Kohl.

Palavra do Bispo

A chave e a espada
Neste domingo festejamos São Pedro e São Paulo. Assim costumamos vê-los representados: Pedro carregando uma grande chave e o Paulo uma espada. Dois símbolos que precisamos compreender para entendermos a mensagem que querem transmitir.
Quando falamos de Pedro, logo vem a nossa mente aquele pescador simples, para não dizer rude, levado a Jesus por seu irmão André, a quem Jesus disse: “Tu és Simon, filho de Jonas, te chamarás Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
E parece que logo assumiu esse papel de representar e responder pelo grupo dos discípulos. Sempre pronto a tomar a dianteira, prometer fidelidade ao mestre, mas na hora “H” vacila como todos os outros, negando a sua amizade pelo Cristo, dizendo e perjurando que nem sequer o conhecia, quando na realidade viveu, ao menos, três anos com Ele.
Não p or isso o Senhor lhe tira a responsabilidade que lhe havia dado. Como o negara por três vezes, por três vezes Jesus lhe pergunta: “Tu me amas mais do que estes?” e ele respondeu: “Tu sabes tudo, tu sabes que te amo!” A que o Senhor o confirma na missão dizendo-lhe: “Apascenta meus cordeiros, apascenta minhas ovelhas!”
A chave, portanto, simboliza o poder de abrir e de fechar que o Senhor lhe confiou, ou seja, a missão dos apóstolos de introduzirem no Reino do Senhor o maior número possível de irmãos, pelo caminho da fé. Visualiza-se aqui a instrumentalidade da Igreja com relação à salvação que oferece a toda a humanidade. Esse poder dado a Pedro é um poder de serviço, de condução, de fazer discípulos. Popularmente isso é confessado em tantas piadas que se conta de Pedro, como aquele que está na porta do Paraíso, fazendo de porteiro que controla os que podem ou não podem entrar na Glória do céu.
Quando falamos de Paulo a primeira lembrança é a de um jovem judeu, profundo conhecedor das Sagradas Escrituras, formado na escola de Gamaliel, zeloso pela observância da Lei judaica. Num primeiro momento perseguidor dos que confessam a fé em Jesus de Nazaré.
Consegue a autorização para ir Damasco com o objetivo de acabar com todos os que professam a fé cristã. Nesse caminho Jesus lhe aparece chamando-o: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” “Quem és tu Senhor?” foi a resposta. E o Senhor: “Sou Jesus de Nazaré, aquele que tu persegues!” Esta experiência mística marcou de tal modo Paulo que revolucionou a sua vida e impregnou nele uma convicção que ninguém mais vai tirar dele: “mesmo que um exército se poste a minha frente não temerei algum mal”.
Depois da visita de Ananias que o ajuda a recuperar a visão, Paulo se faz batizar, se une aos apóstolos, e vai realizar a missão para a qual o Senhor o havia preparado: levar a Boa Nova até os confins da terra.
Ninguém mais segura Paulo. Torna-se o grande evangelizador. Fala a Palavra de Deus com tanta convicção e fé que penetra nos corações dos ouvintes como uma espada de dois gumes. Agora está disposto a pagar com o preço da própria vida. O que vai acontecer em Roma, capital do Império Romano, no centro do mundo conhecido de então. Como Pedro dá testemunho da ressurreição Cristo com o martírio.
Paulo passou uns bons anos anunciando o Evangelho, estruturando comunidades. Com sua ação e seus escritos lançou os fundamentos da cultur a cristã. Ele foi realmente um gênio, sem o qual o cristianismo não teria chegado onde chegou; e não seria o que é hoje.
Podemos afirmar que o cristianismo constitui a feliz síntese da fé de Pedro e da doutrina de Paulo. Sabemos que a fé deve se expressar numa doutrina. E essa doutrina cristã que Paulo assimilou, foi confrontá-la com a fé de Pedro, em Jerusalém. Sabiamente a Igreja ao celebrar junto esses dois apóstolos, além de evidenciar a continuidade da apostolicidade – pois Paulo não foi dos 12, mas é reconhecido como apóstolo – mostra também como a fé e a doutrina se sustentam mutuamente e precisam se apoiarem reciprocamente se queremos ser fieis ao Evangelho.
Precisamos da chave (fé) de Pedro e da espada (sabedoria) de Paulo para sermos autênticos apóstolos de Cristo Jesus e verdadeiros crist&ati lde;os.
Porque custamos tanto a entender e acreditar que a fé é a chave para abrir portas, para descobrir o sentido de tantas coisas da nossa vida e da vida do mundo? Enquanto o homem teimar em querer resolver tudo sozinho, sem confiar e contar com a força e a luz que é Jesus, vai continuar brigando consigo mesmo, com os outros e com Deus e acaba caído e cego, num túnel sem saída.
A festa de São Pedro e São Paulo nos diz que somente acolhendo a luz de Deus, que para nós é Cristo Jesus, nossas vidas encontram sentido. Até mesmo nossas dores, sofrimentos e angústias podem se converter em meios de salvação e de vida.
Usemos a espada da sabedoria e a chave da fé para irmos ao mundo inteiro, levando a feliz notícia da salvação em Cristo.
Que todos possamos confessar com Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo&rdquo ; e experimentar como Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim”.
Encorajados por esses dois irmãos nossos, Pedro e Paulo, peçamos ao Pai: “Concedei a vossa Igreja, seguir os ensinamentos desses apóstolos, que nos deram as primícias da fé”.
+ Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório


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