sábado, 31 de agosto de 2013

Leia a palavra do bispo de Osório, dom Jaime Pedro Kohl.

Palavra do Bispo

Frutos da JMJ 2013
São muitas as leituras de ressonância e repercussão da Jornada Mundial da Juventude realizada há pouco no Rio de Janeiro com a participação do Papa Francisco. Sua primeira viagem apostólica fora de Roma oportunizou num certo sentido apresentar seu “plano de governo” ou manifestar ao mundo seu modo de exercer o ministério petrino.
Como diz a teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer, articulista do Correio Riograndense: “Quando o avião que levou o Papa Francisco de volta ao Vaticano decolou, certamente algo de muito importante havia acontecido em termos teológicos e esclesiais. E isto não apenas no Brasil, ou no Rio de Janeiro, mas em toda a Igreja Universal e no mundo inteiro, onde homens e mulheres vivem, esperam, trabalham, amam e sofrem. Qualquer tentativa de balanço dessa luminosa visita permanece inconsistente diante da es tatura do visitante e das dimensões da mobilização que sua figura logrou”.
No primeiro dos quatro pontos que ela levanta é sobre a pessoa do Papa Francisco. Segundo ela o atual Papa apresenta um perfil que impressiona e atrai pela sua normalidade, atitudes e gestos. Faz questão de se comportar e agir como o comum das pessoas. E isso faz com que todos e todas consigam identificar-se com ele e abrir-se à sua mensagem. Ao ser interrogado porque carrega ele mesmo sua pequena maleta preta, respondeu com simplicidade contundente: “Porque é normal”. E revelou o conteúdo da mala, comum em qualquer sacerdote, tal como breviário, ordinário da missa, etc. Francisco insiste em que as pessoas da Igreja devem ser normais, como todo mundo. Não esquisitas, estranhas.
No mesmo jornal o Frei Beto, uma semana antes escreveu:
Em pleno inverno a presença do Papa Francisco no Brasil, para participar da Jornada Mundial da Juventude, foi uma calorosa primavera. Ele trouxe alegria, esbanjou sorrisos, beijou crianças, apertou as mãos do povo. Os frutos dessa inesquecível visita podem ser resumidos em 15 pontos:
1 – Francisco quer uma Igreja ‘pra fora’, desenclausurada, missionária, engajada na periferia e servidora dos pobres;
2 – Na favela da Varginha, ele delineou o seu perfil de Igreja: ‘advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu’;
3 – Nossa atuação pastoral deve dedicar especial atenção às crianças, aos jovens e aos idosos. Os primeiros por encarnarem o futuro os segundo por guardarem a sabedoria;
4 – Há que combater a corrupção e, ao mesmo tempo, alentar a esperança em ‘um mundo m ais justo e solidário’;
5 – A solidariedade – ‘quase um palavrão’ disse o Papa – deve ser o eixo da nossa pastoral, dispôs a ‘colocar mais água no feijão’;
6 – Devemos combater a ‘cultura do descartável’ que ignora o valor das pessoas e estimula o consumismo e o hedonismo;
7 – Precisamos saber ‘perder tempo’ com os pobres, saber escutá-los;
8 – A Igreja deve espelhar a simplicidade de Jesus, como Francisco de Assis e o papa Francisco que dispensou a capa de arminho, os sapatos vermelhos, o anel e a cruz de ouro, os títulos de Sumo Pontífice e Sua Santidade, para preferir ser chamado apenas de papa, bispo de Roma, servo dos servos de Deus;
9 – A segurança dos cristãos deve estar na confiança em Deus, e não no excessivo conforto que nos afasta dos pobres e do povo;
10 – É preciso recuperar a confiança dos jovens nas instituições políticas, alentá-los na esperança; e ‘reabilitar a política uma das formas mais altas de caridade’;
11 – A política deve ‘evitar o elitismo e erradicar a pobreza’, condenando os opressores como fez o profeta Amós ao denunciar que ‘vendem o justo por dinheiro e o pobre por um par de sandálias’;
12 – Precisamos promover a ‘cultura do encontro’, favorecendo o diálogo sem preconceitos, combatendo os fundamentalismos e as segregações;
13 – A sociedade futura, ‘mais justa, não é um sonho fantasioso’, mas algo que podemos alcançar;
14 – Os jovens devem ser os ‘protagonistas da históeia’, construtores do futuro, de um mundo melhor;
15 – As manifestações dos jovens nas ruas merecem o nosso apoio, pois eles ‘saíram nas ruas do mundo para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna’.
Francisco iniciou a reforma da Igreja pelo papado, como quem está convencido de que, para mudar o mundo, é preciso primeiro mudar a si mesmo.
Permitam que termine com a conclusão da Maria Clara: “Ao fundo das palavras e gestos do Papa, na esteira do rastro luminoso por ele deixado refulge uma figura, uma pessoa. Trata-se daquele que é a razão de ser de seu compromisso de vida. Aquele que tendo a condição divina, não se aferrou as suas prerrogativas mas tomou carne, habitou no meio de nós e foi obediente até a morte de Cruz. Conhecê-lo, amá-lo, contemplá-lo incessantemente é o caminho para qualquer peregrino, qualquer homem ou mulher que se auto-compreenda co mo um ser a caminho para a Verdade e a Vida. Jesus Cristo: uma experiência mais viva de seu mistério, um desejo mais forte de construir seu Reino. Eis o coração, o núcleo do legado luminoso do Papa Francisco nesta visita ao Brasil para a JMJ.
Obrigado Maria Clara, obrigado Frei Beto, por traduzirem tão bem esses sentimentos que são também os nossos.
Não deixemos cair no esquecimento estas providenciais palavras e gestos do nosso representante maior que nos deixou lindas lições de humildade e esperança que brotam de uma vida fundada em Deus.
Como ele, também nós, somos convidados a “botar fé” em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório


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