sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Transcrevo a palavra do bispo de Osório, Dom Jaime Pedro Khol, sobre a festa de todos os santos.


Santos ou pecadores?

A Festa de todos os Santos e a celebração de finados traz à tona algumas reflexões importantes para a nossa vida, nos faz pensar no destino que nos espera. O que nos faz realmente ser humanos? Para onde iremos após a passagem por esta Terra? Somos nós pecadores chamados a santidade?
Não gostamos de falar sobre o fim de nossa vida, mas não podemos fugir dele. Sabemos que um dia deveremos nos apresentar ao nosso Criador e Senhor. Mesmo para os que não professam uma fé específica essas perguntas estão no profundo de cada pessoa.
Todos nós sonhamos com um fim de glória, um fim feliz, um fim que não é um fim, mas o início de uma nova vida, continuidade desta que já vivemos em Cristo Jesus. A esperança cristã está solidificada na pessoa de Jesus Cristo, ancorada em Deus.
Reparamos como no decorrer do ano, “a Igreja celebra as memórias dos mártires e dos confessores, de muitos outros Santos, que, conduzidos à perfeição pela multiforme graça de Deus e recompensados com a salvação eterna, cantam nos céus o perfeito louvor de Deus e intercedem em nosso favor” (SC, n. 104).
Perceberam a especificação: “conduzidos à perfeição pela multiforme graça de Deus”. Isso significa que o grande santificador é Deus. Estas pessoas deixaram a graça de Deus agir nelas. Reconhecer a santidade é reconhecer sim as virtudes heróicas da pessoa, mas sobretudo é reconhecer a ação da graça de Deus nelas. Num certo sentido, reconhecer a santidade de alguém, é sermos gratos a Deus por aquilo que fez naquele irmão, naquela irmã e através dele(a) à comunidade, à Igreja.
“A celebração de todos os santos, em certo sentido, é a festa da santidade anônima. Da santidade entendida, em primeiro lugar, como dom de Deus e resposta fiel da criatura humana. O calendário da Igreja está pontilhado dos grandes nomes de mestres da santidade. Todavia, torna-se impossível enumerar todos os santos, tidos como sinais da manifestação maravilhosa da ação de Deus”.
Tidos como sinais da manifestação maravilhosa da ação de Deus’. Vale dizer que a iniciativa é sempre de Deus. Ao homem o mérito de responder e corresponder a esta iniciativa.
Gostei da comparação que segue: “A santidade pode ser comparada a um grande mosaico que reflete a grandeza da única santidade: Deus. C ada santo ou santa é um exemplar único e exclusivo. Não podemos pensar a santidade como um produto em série, que emerge da fantasia; é realizada singularmente pela mão do Artífice divino”.
O Artífice é Deus. Ele usa de cada pedrinha com sua característica própria para construir essa maravilhosa obra dos santos e santas no painel da Igreja.
“A comemoração de todos os santos nos abre à imprevisibilidade do Espírito Santo. A multiplicidade de santos faz deles um modelo perfeito para a vivência dos carismas pessoais e para a diversidade de opções no seguimento de Jesus Cristo e no serviço à Igreja e à sociedade.
Muitas vezes, quando falamos dos santos, somos tentados a vê-los na ótica perfeccionista, como se fosse super-homens ou supermulheres. Não! Os santos, antes de tudo foram pessoas com uns. Eles fizeram sua caminhada de vida seguindo os passos de Jesus. Participaram da realidade do povo santo e pecador.
Foram pessoas que, por seu modo de viver a Boa Nova de Jesus, marcaram significativamente a sociedade de seu tempo e se transformaram em referenciais atualizados para a história”. Ou seja, a santidade é um modo de viver, que não vem depois da morte, mas que se dá na vida. Ou nos santificamos aqui ou não nos santificamos.
“…Os santos são irrepetíveis anunciadores do amor de Deus para com a humanidade e de sua santidade. São exemplos insuperáveis da força da salvação realizada pelo mistério pascal, modelos perfeitos de comunhão com Jesus Cristo e intercessores perenes e eficazes”.
A grandeza do santo está na sua pequenez, no fato de deixar a graça de Deus trabalhar nele. Não é o extraordinári o e o grandioso aos olhos do mundo que faz o santo, mas o cotidiano vivido de forma coerente. Portanto, algo possível a todo batizado. Por isso que a LG fala do chamado universal à santidade.
Muitos custam a entender como esse convite à santidade valha para todos. Muitos, especialmente jovens, pensam que isso lhes tira a liberdade, que não os deixam viver e ser felizes. Enganam-se redondamente, pois efetivamente, toda pessoa humana que quer ser feliz é chamada a viver em sintonia com o projeto do Pai.
A santidade não é uma realidade impossível de ser alcançada. Tudo depende do vigor com que se vive o ideal das bem-aventuranças. Todos podem ser santos. Não importa se tem muitas ou poucas qualidades, se ainda é pecador, desde que acredite no amor de Deus e deixe o Espírito Santo agir, continue confiando em Deus, sem nunca desistir de buscar evitar o mal e fazer o bem. Cada um com a sua medida própria, qual pedrinha única no mosaico dos filhos de Deus é importante nessa construção.
Se olharmos a vida dos grandes santos, ficamos surpresos o quanto se sentiam pecadores. É tamanha a sensibilidade espiritual da pessoa que busca com sinceridade o caminho da santidade, que também o menor deslize representa uma grande ingratidão ao amor infinito do Pai.
Então, somos todos santos ou todos pecadores?
A resposta é mais simples do se possa imaginar. Aqui a lógica do “aut aut” [ou… ou]não funciona: todos somos pecadores e todos chamados à santidade. Quem não reconhece sua humanidade limitada, pecadora, dificilmente chegará à santidade. Mas é possível sim ser santo, mesmo permanecendo pecador. A resposta a encontramos em Paulo: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça!”
Nossa visita ao cemitério, lembrando algum parente ou amigo que já partiu, deve provocar em nós uma grande vontade de viver e viver bem.
Todos pecadores? Sim!
Todos santos? Enquanto justificados pelo Espírito Santo que nos foi dado no batismo, sim! Enquanto pessoas já perfeitas, não! Mas, todos chamados a perseguir o caminho da santidade!

Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo Diocesano

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