Mensagem
do Papa Francisco para o 28º Dia Mundial do Enfermo
«Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos,
que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28)
Queridos irmãos e
irmãs!
1.
Estas palavras ditas por Jesus – «vinde a Mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11,
28) – indicam o caminho misterioso da graça, que se revela aos simples e
revigora os cansados e exaustos. Tais palavras exprimem a solidariedade do
Filho do Homem, Jesus Cristo, com a humanidade aflita e sofredora. Há tantas
pessoas que sofrem no corpo e no espírito! A todas, convida a ir ter com Ele –
«vinde a Mim» –, prometendo-lhes alívio e recuperação. «Quando Jesus
pronuncia estas palavras, tem diante dos seus olhos as pessoas que encontra
todos os dias pelas estradas da Galileia: muita gente simples, pobres, doentes,
pecadores, marginalizados pelo ditame da lei e pelo opressivo sistema
social. Este povo sempre acorreu a Ele para ouvir a sua palavra, uma
palavra que incutia esperança» (Angelus, 6 de julho de 2014).
No XXVIII Dia
Mundial do Doente, Jesus dirige este convite aos doentes e oprimidos, aos pobres
cientes de dependerem inteiramente de Deus para a cura de que necessitam sob o
peso da provação que os atingiu. A quem vive na angústia devido à sua situação
de fragilidade, sofrimento e fraqueza, Jesus Cristo não impõe leis, mas, na sua
misericórdia, oferece-Se a Si mesmo, isto é, a sua pessoa que dá alívio. A
humanidade ferida é contemplada por Jesus com olhos que veem e observam, porque
penetram em profundidade: não correm indiferentes, mas param e acolhem o homem
todo e todo o homem segundo a respetiva condição de saúde, sem descartar
ninguém, convidando cada um a fazer experiência de ternura entrando na vida
d’Ele.
2.
Porque tem Jesus Cristo estes sentimentos? Porque Ele
próprio Se tornou frágil, experimentando o sofrimento humano e recebendo, por
sua vez, alívio do Pai. Na verdade, só quem passa pessoalmente por esta
experiência poderá ser de conforto para o outro. Várias são as formas graves de
sofrimento: doenças incuráveis e crónicas, patologias psíquicas, aquelas que
necessitam de reabilitação ou cuidados paliativos, as diferentes formas de
deficiência, as doenças próprias da infância e da velhice, etc. Nestas
circunstâncias, nota-se por vezes carência de humanidade, pelo que se revela
necessário, para uma cura humana integral, personalizar o contacto com a pessoa
doente acrescentando a solicitude ao tratamento.
Na doença, a pessoa sente comprometidas não só a sua integridade física, mas
também as várias dimensões da sua vida relacional, intelectiva, afetiva,
espiritual; e por isso, além das terapias, espera amparo, solicitude, atenção,
em suma, amor. Além disso, junto do doente, há uma família que sofre e pede,
também ela, conforto e proximidade.
3.
Queridos irmãos e irmãs enfermos, a doença coloca-vos de
modo particular entre os «cansados e oprimidos» que atraem o olhar e o coração
de Jesus. Daqui vem a luz para os vossos momentos de escuridão, a esperança
para o vosso desalento. Convida-vos a ir ter com Ele: «Vinde». Com efeito,
n’Ele encontrareis força para ultrapassar as inquietações e interrogativos que
vos surgem nesta «noite» do corpo e do espírito. É verdade que Cristo não nos
deixou receitas, mas, com a sua paixão, morte e ressurreição, liberta-nos da
opressão do mal.
Nesta condição,
precisais certamente dum lugar para vos restabelecerdes. A Igreja quer ser,
cada vez mais e melhor, a «estalagem» do Bom Samaritano que é Cristo (cf. Lc 10,
34), isto é, a casa onde podeis encontrar a sua graça, que se expressa na
familiaridade, no acolhimento, no alívio. Nesta casa, podereis encontrar pessoas
que, tendo sido curadas pela misericórdia de Deus na sua fragilidade, saberão
ajudar-vos a levar a cruz, fazendo, das próprias feridas, frestas através das
quais divisar o horizonte para além da doença e receber luz e ar para a vossa
vida.
Nesta obra de
restabelecimento dos irmãos enfermos, insere-se o serviço dos profissionais da
saúde – médicos, enfermeiros, pessoal sanitário, administrativo e auxiliar,
voluntários –, pondo em ação as respetivas competências e fazendo sentir a
presença de Cristo, que proporciona consolação e cuida da pessoa doente
tratando das suas feridas. Mas, também eles são homens e mulheres com as suas
fragilidades e até com as suas doenças. Neles se cumpre de modo particular esta
verdade: «Quando recebemos o alívio e a consolação de Cristo, por nossa vez
somos chamados a tornar-nos alívio e consolação para os irmãos, com atitude
mansa e humilde, à imitação do Mestre» (Angelus, 6 de julho de 2014).
4.
Queridos profissionais da saúde, qualquer intervenção
diagnóstica, preventiva, terapêutica, de pesquisa, tratamento e reabilitação há
de ter por objetivo a pessoa doente, onde o substantivo «pessoa» venha sempre
antes do adjetivo «doente». Por isso, a vossa ação tenha em vista
constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a atos de
natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem mesmo se
for irreversível o estado da doença.
Quando vos
defrontais com os limites e possível fracasso da própria ciência médica perante
casos clínicos cada vez mais problemáticos e diagnósticos funestos, sois
chamados a abrir-vos à dimensão transcendente, que vos pode oferecer o sentido
pleno da vossa profissão. Lembremo-nos de que a vida é sacra e pertence a Deus,
sendo por conseguinte inviolável e indisponível (cf. Instr. Donum vitae,
5; Enc. Evangelium vitae, 29-53). A vida há de ser acolhida,
tutelada, respeitada e servida desde o seu início até à morte: exigem-no
simultaneamente tanto a razão como a fé em Deus, autor da vida. Em certos
casos, a objeção de consciência deverá tornar-se a vossa opção necessária, para
permanecerdes coerentes com este «sim» à vida e à pessoa. Em todo o caso, o
vosso profissionalismo, animado pela caridade cristã, será o melhor serviço ao
verdadeiro direito humano: o direito à vida. Quando não puderdes curar,
podereis sempre cuidar com gestos e procedimentos que proporcionem amparo e
alívio ao doente.
Infelizmente,
nalguns contextos de guerra e conflitos violentos, são atacados o pessoal
sanitário e as estruturas que se ocupam da receção e assistência dos doentes.
Nalgumas áreas, o próprio poder político pretende manipular a seu favor a
assistência médica, limitando a justa autonomia da profissão sanitária. Na
realidade, atacar aqueles que se dedicam ao serviço dos membros sofredores do
corpo social não beneficia a ninguém.
5.
Neste XXVIII Dia Mundial do Doente, penso em tantos irmãos e
irmãs de todo o mundo sem possibilidades de acesso aos cuidados médicos, porque
vivem na pobreza. Por isso, dirijo-me às instituições sanitárias e aos governos
de todos os países do mundo, pedindo-lhes que não sobreponham o aspeto
económico ao da justiça social. Faço votos de que, conciliando os princípios de
solidariedade e subsidiariedade, se coopere para que todos tenham acesso a
cuidados médicos adequados para salvaguardar e restabelecer a saúde. De coração
agradeço aos voluntários que se colocam ao serviço dos doentes, procurando em
não poucos casos suprir carências estruturais e refletindo, com gestos de
ternura e proximidade, a imagem de Cristo Bom Samaritano.
À Virgem Maria,
Saúde dos Enfermos, confio todas as pessoas que carregam o fardo da doença,
juntamente com os seus familiares, bem como todos os profissionais da saúde.
Com cordial afeto, asseguro a todos a minha proximidade na oração e envio a
Bênção Apostólica.
Vaticano, Memória
do SS. Nome de Jesus, 3 de janeiro de 2020.
[Franciscus]
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