terça-feira, 10 de setembro de 2013

Estamos no mês da Bíblia. Para nos motivar na leitura da Palavra de Deus, transcrevo a motivação de Dom Jaime Pedro Kohl, bispo de Osório.

A casa da Palavra
Estamos no mês da Bíblia que para nós cristãos é a principal fonte onde alimentamos nossa espiritualidade e buscamos a iluminação para vivermos fielmente nossa vocação e missão no mundo. Pelo mistério da Encarnação a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Essa é a Boa Notícia, o Evangelho, Palavra de Salvação.
Paulo escrevendo a Timóteo é muito claro: “Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: ‘Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores’” (1Tm 1,15). E o evangelho deste Domingo, Lc 15, que nós acolhemos sempre como Palavra de Salvação, contando-nos a parábola do Pai misericordioso, que atende ansiosamente pelo retorno do filho desencaminhado, nos mostra o que Deus mais deseja de cada um de nós: que nos mantenham os na comunhão com ele e, se acontecer de cair na desgraça do afastamento, não tenhamos receio de voltar para a casa do Pai, ou seja, recolocar nossa vida nos trilhos no caminho regrado e iluminado pela Palavra.
A Igreja nasceu da Palavra. A notícia da ressurreição do Mestre Jesus reuniu o grupo dos apóstolos dispersos e pelo testemunho deles começou o novo povo de Deus que passa a se reunir nas casas: “Eram perseverantes no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42).
Nisto que consiste a catequese apostólica: a pregação da Palavra de Deus. Os Apóstolos anunciam a inauguração do Reino de Deus e, portanto, a decisiva intervenção divina na história humana, proclamando que a morte e a Ressurreição de Jesus Cristo produziu a salvação: “Em nenhum outro existe salvação” (At 4, 12).
Embora a catequese ajude a aprofundar esse mistério na vida cristã, o ápice da pregação encontra-se na homilia, que ainda hoje para muitos cristãos é o momento principal do encontro com a Palavra de Deus. Aqui o ministro deveria transformar-se em profeta. Com uma palavra clara e incisiva deveria nos ajudar a responder a pergunta: “O que temos que fazer?” (At 2, 37).
Por conseguinte, o anúncio, a catequese e a homilia supõem uma leitura e uma compreensão, uma explicação, um compromisso da mente e do coração.
A cena de Emaús (Lc 24) é exemplar e reproduz aquilo que acontece todos os dias nas nossas igrejas: à homilia de Jesus sobre Moisés e os profetas segue-se, a fração do pão eucarístico.
Este & eacute; o momento do diálogo íntimo de Deus com o seu povo, é o ato da nova aliança selada no sangue de Deus (Cf. Lc 22, 20), é a obra suprema do verbo que se oferece como alimento no seu corpo imolado, é a fonte e o ápice da vida e da missão da Igreja.
A narração evangélica da última Ceia, memorial do sacrifício de Cristo, quando é proclamada na celebração eucarística, na invocação do Espírito Santo, torna-se acontecimento e sacramento. Por isso o Vat. II, num trecho de profunda intensidade, declarava: “A Igreja venerou sempre as Sagradas Escrituras, como o próprio Corpo do Senhor, sem jamais deixar, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar o pão da vida, tanto na mesa da Palavra de Deus, como no Corpo de Cristo, e de o distribuir aos fiéis” (DV 21).
“A liturgia da palavra e a liturgia eucarística, estão unidas tão estreitamente entre si a ponto de constituírem um único ato de culto” (SC 56).
O terceiro pilar do edifício espiritual da Igreja, casa da Palavra, é constituído pelas orações, entrelaçadas por “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3, 16). Juntamente com a Liturgia das Horas e com as celebrações comunitárias da Palavra, a tradição introduziu a prática da Leitura Orante da Palavra. A pessoa iluminada pelo Espírito Santo, pode ter acesso ao tesouro da Palavra e encontrar nela Jesus Cristo, palavra viva de Deus.
E a última coluna que sustém a Igreja, casa da Palavra é a Koinonia, a comunhão fraterna. Como Jesus recordava, para ser seus irmãos e irmãs, é necessário ser como “aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21).
Escutar com autenticidade é obedecer e agir, é fazer prosperar na vida a justiça e o amor, é oferecer na existência e na sociedade um testemunho na linha do apelo dos profetas, que uniam constantemente a Palavra de Deus e a vida, a fé e a retidão, o culto e o compromisso social.
É isso que Jesus recorda muitas vezes a partir da célebre admoestação do Sermão da Montanha: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7, 21).
Essa escuta obediente da Palavra passa a ser visível e legível no nosso próprio rosto e nas mãos do fiel. Assim o Mistério da Encarnação continua acontecendo: a Palavra se faz carne em nossa carne e Deus se faz gente em nossa gente. O Ev angelho se torna vida e a vida Evangelização. São João Calábria, fundador da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência, não cansava de nos exortar: “Sejamos evangelhos vivos”.
O que isso significa? Que sempre que nos esforçamos por viver segundo o Evangelho estamos evangelizando pelo nosso testemunho de vida. Isso, também, é Missão. Uma missão silenciosa, mas uma grande missão!

Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório

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