sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Transcrevo a palavra do bispo de Osório dom Jaime Pedro Khol. Vale a pena ler o texto.

Palavra do Bispo

Semana da Pátria 2013
O mês de setembro nos traz a memória a Semana da Pátria, a comemoração da Independência. O tempo dos grandes desfiles passou, mas é justo que nos perguntemos durante essa semana se as coisas como estão acontecendo, hoje, correspondem ao país que sonhamos, o Estado que queremos, a sociedade que desejamos construir. A 5.ª Semana Social Brasileira, programada e realizada nesta semana pelas pastorais sociais aprofundou esse tema: “O Estado que temos e o Estado que queremos”.
O Grito dos Excluídos que nasceu da Campanha da Fraternidade de 1994 e que hoje é assumido pela CNBB e por muitas outras Instituições, este ano tem como tema: “Juventude que ousa lutar constrói o Projeto Popular”. É uma forma de mobilização da população brasileira sobre as questões sociais que preci sam de maior atenção dos que tem poder de decisão sobre o presente e o futuro de nossa nação, no que tange aos direitos do cidadão em vista do bem comum e a promoção da vida.
Como nos dizia o Papa Francisco falando aos representantes da sociedade civil: “Todos os que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nação, são chamados a enfrentar o futuro ‘com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade’”.
Hoje, pouco se fala de Pátria. Fala-se mais em país ou nação brasileira. Não sei se as escolas ainda ensinam o Hino Nacional! Em tempos de globalização o horizonte é outro, sentimo-nos cidadãos do mundo. Contudo, não podemos esquecer nossas origens, o chão onde nos criamos, o povo a que pertencemos.
Por muito tempo fomos o país do futebol, do carnaval, do prazer, da festa, do jeitinho. O lado bom disto: o sermos identificados como um povo alegre e feliz. O menos bom: um povo leviano e pouco sério, quando não descompromissado e pouco confiável, até mesmo preguiçoso, boêmio.
Precisamos assumir as coisas boas que nos honram e abandonar tudo o que compromete nossa reputação. Há um ano atrás eu escrevia: “Esperamos que os juízes do mensalão não percam a oportunidade de dizer ao mundo que na nossa Pátria está começando uma nova era: que agora, também no Brasil, lugar de corrupto é na cadeia. Esse é ‘um sonho intenso, um raio vívido’ que há muito tempo esperamos ver realizado”. Contudo, a morosidade da justiça brasileira ainda não resolveu isso e não sabemos como vai acabar, com uma Câmara dos Deputados que se esconde atrás do voto secreto como no recente caso Dona don. Esperamos que não termine, mais uma vez, tudo em pizza.
Um país só será grande, aos olhos do mundo, se tiver respeito e amor pelos seus filhos, oferecendo a eles condições dignas de vida e justiça social. O papa insistiu: “Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a seguir”. Lembremos, também, que o papa disse preferir os jovens nas ruas protestando do que acomodados e insensíveis.
Setembro é também o mês da Bíblia. Tanto no Primeiro como no Segundo Testamento sempre está presente nas entrelinhas, como uma constante, a exigência da justiça e do direito, como lemos em São Tiago: “Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é essa: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo”.
Honremos nossa Pátria vivendo como pessoas honestas, amantes da justiça e fortes na fé, cientes que “o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”. Não deixemos que estas ervas daninhas habitem nosso coração, ataquem nossas famílias e nem contaminem nossas instituições públicas e privadas.
Sinal que amamos de verdade nossa Pátria é estarmos dispostos a dar nossa vida em favor dos irmãos, na defesa da justiça, do amor e da paz.
Ou como nos ensina a Dei Verbum: “Ouvindo religiosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com confiança, este Santo Sínodo adere às palavras de São João: ‘Anunciamos-vos a vida eterna, que estava junto ao Pai e se nos manifestou. O que vimos e ouvimos, vo-lo anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco e nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo’(1Jo 1,2-3), afim de que pelo anuncio da salvação, o mundo inteiro, ouvindo, creia, crendo, espere e esperando, ame”.
Somente crendo, esperando e amando teremos uma Pátria e um mundo justo, solidário e feliz.
Será isso demasiadamente utópico? Eu prefiro acreditá-lo possível. E se para construí-lo precisar sair para as ruas para reivindicá-lo estou disposto a fazê-lo.
Gostaria que os desfiles nas nossas cidades, além do aspecto folclórico que o caracteriza, pudessem expressar o sonho de uma Pátria melhor para todos.

Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório

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